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Assista “Vênus de Mina”, o novo clipe de Oreia
Assista “Vênus de Mina”, o novo clipe de Oreia
A love song “Vênus de Mina”, de Oreia, foi lançada com um clipe que é uma espécie de sex tape feminista com influências cinematográficas.
Dirigido por Luísa Loes (autora do blog Clitóris Livre), o clipe quebra com o padrão masculino de sensualidade e sexualidade geralmente apresentado nos clipes de rap, mostrando o prazer e o sexo por uma ótica feminina, ou seja, praticado de maneira mais espontânea e leve e menos focada na performance.
INTIMIDADE E AFETO
Entre um baseado e outro, discussões de relacionamento e reflexões diversas sobre a vida, o casal se explora mutuamente, conhecendo todos os cantos dos corpos um do outro. São corpos reais, com pêlos, pintas e marcas de nascença, mostrados de perto.
“Nós tentamos mostrar o corpo da forma mais natural possível. O clipe só foi censurado para atender as demandas do Youtube, que proíbe mamilos. O prazer e o erotismo femininos continuam sendo tabu. O mesmo sistema que proíbe a exibição de seios, não condena o fio dental e a bunda de fora das propagandas e programas da TV comercial, que vê no corpo feminino um objeto (domesticado) e lucrativo”, afirma a diretora.
Roteiro/Referências
A ideia do roteiro veio do primeiro verso da música:
“Fiz um pedido pra Afrodite: me dê uma flor; a flor disse…”
Afrodite – a deusa grega do amor, da beleza e da sensualidade – foi sincretizada com Vênus na época da dominação romana. A estátua de Vênus de Milo é uma das obras de arte mais antigas e conhecidas de toda a arte ocidental.
Essa estátua foi usada como referência no filme “Os Sonhadores” (2003) de Bernardo Bertolucci, que relata a vida de três amigos apaixonados por cinema em maio de 68 na França.
O clipe então imita um filme cujos personagens, cinéfilos, brincavam de se desafiar uns aos outros imitando cenas de filmes clássicos, e fazendo os amigos adivinhar que obras estavam sendo reproduzidas.
Em um dos momentos do filme, Isabelle (a personagem de Eva Green) enrola um lençol na cintura, coloca uma luva preta e com o torso nu, sai de um corredor escuro, perguntando quem ela era a seu parceiro.
Ele, deitado na cama, com a cabeça pendente além dos limites do colchão, responde dizendo que sempre sonhara em fazer amor com “Vênus de Milo”.
Como ele acerta o desafio, ela lentamente caminha pelo quarto em sua direção. Ela se aproxima, de frente, e senta na cara dele enquanto fala: “Eu não posso nada te parar, eu não tenho braços”.
É com uma releitura muda e maconheira dessa cena que começa o clipe.
Nouvelle Vague
Além de “Os Sonhadores”, há outro filme que foi tomado fortemente como referência. A direção de fotografia do clipe, executada por Bernardo Vasconcellos, remete à “Une Femme Marie” (1964), de Jean Luc Godard, um dos maiores ícones da Nouvelle Vague.
Nouvelle Vague é um movimento cinematográfico puxado por jovens contestadores da década de 60 na França. Com poucos recursos, mas unidos por uma vontade comum de transgredir as regras normalmente aceites do cinema comercial, esses jovens mostravam em seus filmes a vida de personagens típicos da época da revolução de Maio de 68, ao mesmo tempo que refletiam sobre temas da vida cotidiana daqueles tempos, falando por exemplo de relacionamentos e amor livre.
Com produção simples, sem recursos e praticamente sem custos (exceto por algumas pizzas, refrigerantes e maconha), o clipe foi feito com uma equipe de duas pessoas, filmado em um estúdio emprestado, com fundo de chroma-key.
“São várias épocas e várias vanguardas que se conectam. Em “Os Sonhadores”, que retrata justamente o Maio de 68, que é um dos marcos da Nouvelle Vague, os irmãos franceses e seu amigo americano são socialistas revolucionários, discutindo amor livre. Hoje em dia vivemos um outro tipo de vanguarda, mas seguimos produzindo de maneira independente e nossas questões permanecem orbitando os mesmos espaços”, conclui Luísa.
Ficha Técnica
Clipe
Conceito, roteiro, direção e edição: Luísa Loes
Direção de fotografia e produção executiva: Bernardo Vasconcellos
Finalização: Bernardo Vasconcellos e Luísa Loes
Beat: Oculto Beats
Gravado no Estúdio Nébula
Mixagem e masterização por Fred Paco